Já está no ar minha crônica de janeiro de 24 no blog Tesão Literário, no portal pernambucano Ver Agora.
Na Lego Ergo Sum deste mês, falo sobre as tradicionais promessas de ano novo, a partir de uma singela – e breve – passagem do romance “Aos 7 e aos 40”, do meu querido amigo e ídolo João Anzanello Carrascoza.
Confira!
(Ah, e aproveite para ler as colunas anteriores):
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Eu prometo
Por Ricardo Mituti
Neste ano eu prometo cuidar mais da minha saúde. Prometo, inclusive, começar a comer cebola e a tomar suco de tamarindo. Prometo fazer musculação, pilates, abdominal, ioga e dieta. Chocolate? Só um bombom, uma vez por mês. Prometo.
Prometo que vou telefonar mais para meus amigos – ainda que eles prefiram conversar apenas por WhatsApp. E, nesse sentido, não posso deixar de prometer, claro, visitar mais meu pai, minha irmã e meus sobrinhos, mesmo que, neste último caso, isso implique embarcar num avião. Aliás, neste ano eu prometo tratar meu medo de avião. Prometo voltar a fazer terapia e, se for o caso, consultar um psiquiatra.
Prometo me desfazer das roupas de quando tinha vinte e poucos anos – e que ainda uso. Por esse motivo, também prometo comprar algumas roupas novas – algo que não faço há bastante tempo. Prometo, por outro lado, não gastar um centavo com camisas de futebol. Com tudo isso, o que eu prometo, mesmo, é manter meu guarda-roupa sempre arrumado.
Por falar em futebol, prometo que não vou mais trocar a pelada com meu filho e o jantar com a primeira-dama pelo jogo do meu time, na tevê ou no estádio. Prometo que nem falar de futebol vou mais.
Benício e Daniela também estão na minha lista de promessas para além do futebol. Prometo ser mais paciente com ambos – ah, e com minha mãe também! Com Benício, também prometo brincar mais; com Daniela, prometo organizar-me para cozinhar durante a semana e aliviar um pouco o peso de sua insana jornada, em casa e fora dela.
Prometo limpar o vidro do aquário toda semana e a trocar a água a cada dez ou quinze dias, no máximo. Prometo começar a limpar a gaiola da calopsita e a descer o lixo dia sim, dia não, sem reclamar. Também prometo não reclamar de ir ao supermercado todo fim de semana.
Prometo mandar lavar o carro com mais frequência e ir mais ao teatro, ao cinema e a exposições. Prometo viajar mais.
Para bancar as promessas que pedem dinheiro, prometo poupar. Prometo gastar menos com coisas desimportantes. Quer dizer, até com coisas importantes eu prometo gastar menos. Livros, por exemplo. Prometo comprar menos livros.
Também prometo tirar o pó da minha biblioteca pelo menos três ou quatro vezes no ano. Prometo limpar todos os volumes e mantê-los organizados em ordem alfabética, pelo sobrenome do(a) autor(a). E vou começar agora mesmo – afinal, o ano novo já está aí, em pleno funcionamento. E, como dizem, promessa é dívida.
Mas, ora, o que esse Carrascoza está fazendo depois de Cervantes? Ele deve vir antes, poxa! Cadê os livros do Carrascoza? Ah, achei. “Aos 7 e aos 40”, letra “A”. É o primeiro, que abre a coleção.
Adoro esse livro. Cheio de frases ótimas. Lembro-me de ter anotado uma no verso do marcador de páginas… aqui; bem aqui: abaixo das palavras ditas, há sempre outras, silenciadas, que as desmentem […].
Eita. Maldita hora que prometi limpar a biblioteca!