Já está no ar minha crônica de fevereiro de 24 no blog Tesão Literário, no portal pernambucano Ver Agora.
Na Lego Ergo Sum deste mês, falo sobre mediocridade, perfeccionismo e sucesso a partir de excerto do romance “Franny & Zooey”, de J. D. Salinger.
Confira!
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Janeiro
Vou começar a cantar
Por Ricardo Mituti
No começo deste ano, li uma matéria no site da BBC Brasil que contava a história de um grupo musical da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, chamado “Mediocre Melodies” – ou “Melodias Medíocres”. (leia aqui)
Como você deve imaginar, cantar não era o forte dos integrantes. Ainda assim, eles foram em frente.
Lembrei-me de uma discussão acalorada que tive com um amigo, nos tempos de faculdade. Ele chamou meu time de medíocre. Fiquei furioso. “Medíocre porque é um time mediano, apenas”, devolveu-me, sóbrio.
De volta a Cornell University, a mesma matéria da BBC que fala do grupo de cantores medíocres traz a provocação de um professor de psicologia e ciências do comportamento, autor do livro “A armadilha da perfeição”, em tradução livre. Pergunta ele: “Por que ‘mediano’ se tonou uma palavra ruim?”
Simples, respondo: porque vivemos numa sociedade cada vez mais competitiva, na qual busca-se mais que o perfeito.
Curioso é que esse mesmo professor, cujo nome é Thomas Curran, afirma que perfeccionismo e sucesso não têm relação. Ou seja, segundo ele, você pode ser um cantor medíocre e ainda assim ter algum reconhecimento. Ou então seu time pode ser medíocre e ganhar um campeonato – ou, na pior das hipóteses, alguns jogos.
Eu, que sou um perfeccionista de carteirinha, tenho muita dificuldade de me contentar com o mediano. Para mim, tudo precisa ser acima da média. Minha régua é alta, dizem. Mas a verdade é que, assim como a Franny, personagem do Salinger em “Franny & Zooey”, eu estou cansado. Só porque eu gosto de aplauso e das pessoas me elogiando, isso não impede que esteja tudo errado, desabafa a moça, na obra. Eu tenho vergonha. Eu estou cansada. Cansada de não ter coragem de ser um joão-ninguém. Cansada de mim e de todo mundo que quer causar algum tipo de impacto.
É isso. Acho que a partir de agora quero ser um joão-ninguém. Vou começar a cantar – porque de time eu não troco. Isso é que não.