Demorou mais do que deveria. Mas finalmente terminei a leitura de “Decálogo do Perfeito Contista”, do escritor uruguaio Horacio Quiroga (L&PM Editores; 2009).
A obra foi-me indicada pelo amigo e mestre Paulo Tedesco, meu consultor editorial particular, logo em nossas primeiras aulas.
Por ser uma obra teórica, de crítica literária, resolvi deixar para lê-la após algum tempo de coaching. Antes, por recomendação do próprio Tedesco, eu queria e precisava ler alguns clássicos do gênero escolhido por mim para debutar na ficção como autor independente.
Acho que fiz bem em ter deixado o Decálogo engavetado por alguns meses. Hoje, um pouco mais amadurecido como escritor, tenho condições mais adequadas de refletir sobre os “mandamentos” de Quiroga e mesmo sobre os comentários dos escritores que falam sobre cada um desses “mandamentos” – e olha que, aqui, a lista tem nomes de peso da Literatura brasileira, como Moacyr Scliar, Luiz Antonio de Assis Brasil, Aldyr Garcia Schlee, Charles Kiefer e Luís Augusto Fischer, entre outros.
O escritor Horacio Quiroga (foto abaixo), contista de mão cheia que era, resolveu listar dez ensinamentos que, na sua opinião, poderiam transformar um aspirante a autor num consagrado escritor de contos.
Para não me alongar, vou omitir, neste post, os dez “mandamentos”. Se quiser conhecê-los, clique aqui.
E ainda que a proposta de Sergio Faraco e Vera Moreira, organizadores da obra, tenha sido válida, dar voz a 20 escritores, para que comentassem cada um dos ensinamentos do uruguaio sob seu ponto de vista particular, tornou a leitura um tanto maçante.
Comentei com Tedesco, numa das nossas últimas aulas, que o “Decálogo” era praticamente uma “cagação de regra” – com o perdão da expressão chula. Muita opinião, devaneios a perder de vista – algo típico de quem escreve – e pouca objetividade.
Não que todos os comentários sejam dispensáveis; muito pelo contrário. Devo confessar que consegui selecionar um bom número de possíveis epígrafes para meu talk show, inclusive.
O problema é que a arte de escrever é muito subjetiva. Neste universo, na minha modesta opinião, as técnicas de escrita não devem ser encaradas como fórmulas matemáticas, engessadas, frias e irrefutáveis. Sob este aspecto, o debate é válido, sim.
No fundo, o que me incomodou no “Decálogo do Perfeito Contista” foi o tom do discurso de alguns comentadores, notadamente assoberbado, quase irrevogável. Para mim, este é o ponto baixo da obra.
Que fique claro que o livro de Quiroga não é um manual; ele apenas dá um norte para o uso de algumas técnicas em narrativas curtas. Portanto, não é obra para qualquer tipo de leitor.
Os que não gostam de crítica literária devem passar longe do Decálogo. Já os amantes de um bom debate – em especial os que militam no universo da Escrita -, com um pouco de boa vontade, têm nele a oportunidade da reflexão, sob diferentes prismas – alguns controversos, para mim -, em busca do aprimoramento do ofício.
Defina em qual desses grupos você se encontra, primeiramente. Só depois decida se partirá ou não para a leitura do “Decálogo do Perfeito Contista”.