Leituras do Ano: “Dançar Tango em Porto Alegre” finalizado

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Mais um livro concluído. O 14o de 2016. E, mais uma vez, uma indicação do mestre Paulo Tedesco, meu consultor editorial particular, para nossas aulas de escrita criativa.

Li “Dançar Tango em Porto Alegre” (L&PM Pocket; reimpressão de 2016. Original de 1998), do premiado escritor gaúcho Sergio Faraco.

Vencedor do Prêmio Nacional de Ficção 1999 da Academia Brasileira de Letras, “Dançar Tango em Porto Alegre” é uma coletânea de 18 contos – assim como meu Histórias (Quase) Verídicas, registre-se, mas sem pretensão alguma de comparações – dividida em três partes temáticas: Rio Grande do Sul; infância e adolescência e amores adultos. Em todas, de alguma maneira, melancolia e sexo são muito presentes.

Cada uma das três partes da obra tem sua peculiaridade. Na primeira, sem dúvida, é a presença marcante – e, às vezes, exageradamente maçante – do “gauchês”.

As narrativas, em geral, são ótimas. Mas o autor, na minha humilde opinião, força a barra nas palavras e expressões típicas daquele Estado.

Para quem nada conhece do “vocabulário rio-grandense”, sugiro ler a primeira parte de “Dançar Tango em Porto Alegre” com um dicionário ao lado, com consultas sequenciais ao Google ou mesmo com suporte de um intérprete local.

Brincadeiras à parte, as histórias são envolventes. Personagens vivos e ambientações precisas transportam o leitor para os rincões do Rio Grande do Sul.

Gostei, nesta primeira parte, de Sesmarias do Urutau Mugidor – e não se deixe assustar com o título. O final deste conto é de uma sutileza de fazer inveja.

Já na segunda parte, na qual aborda a temática da infância, adolescência, das transições e experiências desse período, Sergio Faraco revela-se um autor um pouco menos melancólico. Pelo menos em dois dos contos: Guerras Greco-Pérsicas e A Língua do Cão Chinês.

No primeiro, ele fala sobre sexo adolescente com metáforas históricas dos eventos que dão título ao conto. Simplesmente genial e muito bem-humorado. O meu preferido dos 18 que compõem a obra, inclusive.

Já no segundo, o autor torna-se quase inocente, na figura da criança protagonista que flagra, com discrição, uma noite de amor dos pais. Singeleza ímpar.

A terceira e última parte de “Dançar Tango em Porto Alegre” é a mais intensa e amargurada delas. O sexo é pano de fundo para três dos seis contos – sendo que o autor, para mim, se sai soberanamente melhor no excelente A Dama do Bar Nevada.

Sergio Faraco também ensaia uma até então inédita virada de rumo de história, daquelas de tirar o fôlego, no conto “Dançar Tango em Porto Alegre”, que fecha a obra. Só que não a entrega. E, por incrível que pareça, esse inteligente pé no freio, aliado à tórrida cena de sexo quase selvagem que se desenrola entre dois estranhos dentro de um vagão de trem – no Rio Grande do Sul, claro – fazem deste conto uma ode à melancolia que marca este excelente e vivo trabalho do autor.

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